Rússia, 1905: muito antes de liderar o Exército Vermelho na vitoriosa Revolução de 1917, o jovem Liev Trótski já participava dos levantes populares contra o regime tsarista. Preso como dissidente político em dezembro de 1905 aos 25 anos, junto a outros quatorze companheiros, é condenado ao exílio perpétuo na Sibéria. Em 1907, fortemente escoltado, é levado em direção à remota localidade de Obdorsk, situada vários graus ao norte do Círculo Polar Ártico, a mais de 1.500 verstas da estação ferroviária mais próxima.
Ao longo do trajeto, Trótski planeja uma perigosa fuga, saindo do povoado de Beriózov, penúltima parada antes do destino final. Concebido em duas partes: a ida, em formato de cartas para sua mulher, Natália Sedova, que ficara em São Petersburgo com os dois filhos, ao estilo de diário de viagem ao longo dos quarenta dias que informam passo a passo a jornada e o plano de escape; e a volta, que promove uma mudança de estilo para um relato contínuo em primeira pessoa, uma crônica da fuga, que envolve enganar oficiais, a contratação de um extravagante guia com um trenó de renas atravessando as paisagens nevadas e isoladas e todos os percalços da aventura, contadas por um exímio narrador, irônico e observador, com inesquecíveis descrições da natureza selvagem e observações sobre o comportamento dos animais, os costumes dos habitantes da região, submetidos ao frio extremo, a uma pobreza crônica e a um isolamento só vencidos pelo calor proporcionado pelo álcool e pela solidariedade mútua. Um capítulo pouco conhecido da vida dramática e romanesca de um dos maiores personagens do século XX.