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[Conteúdo] A batalha de Tejucupapo

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Distante dos livros da educação básica e das salas de aula, mas bem perto de nós. Logo ali no município de Goiana, Litoral Norte pernambucano, a memória das Heroínas de Tejucupapo resiste, sobretudo, no hábito de contar histórias e na luta cotidiana das mulheres locais. À época da Insurreição Pernambucana, meados do século XVII, um dos confrontos entre luso-brasileiros e holandeses na região, intitulado de Batalha de Tejucupapo, cravou um marco na resistência e expulsão dos flamengos ao ter o primeiro registro da participação de mulheres em um conflito armado no Brasil.

Hoje, a recordação do fato carrega consigo inspiração que empodera as tejucupapenses. Era a terceira investida dos holandeses naquele território. Cerca de 600 homens, aproximadamente 400 holandeses e 200 índios, em 27 embarcações, aportaram no litoral de Tejucupapo, entre o final de abril e começo de maio de 1646. Desesperados pela falta de alimentos em Recife, os flamengos planejavam saquear a comunidade que tinha vastos plantis de mandioca, cana-de-açúcar, limões e laranjas. O dia certo do combate é uma incógnita, mas há especulações do Barão de Rio Branco e de outros historiadores, como Octávio Pinto no livro Velhas Histórias de Goiana (1964) a respeito do dia 24 de abril.

Mesmo o período do Brasil holandês sendo um dos mais ricos em documentação produzidas à época, principalmente em Pernambuco, a maioria dos registros foram escritos sobre a ótica oficial holandesa. Muito se sabe sobre os senhores de engenho e a nobreza, mas pouco é descrito sobre personagens negros, índios, pobres e, muito menos mulheres.

Essa lacuna documental não é limitada a Batalha de Tejucupapo. Segundo a historiadora Vanessa Marinho, há dois fatores que levam a ausência de personagens femininos na historiografia. “Nesse contexto que a gente conhece do registro oficial, entendemos que os homens são produtores, então, eles falam da história de si mesmos. Isso não só se deve ao fato de quem é responsável pela construção da escrita, mas do lugar social que as mulheres ocupam ao decorrer do tempo”, explica.

Único registro contemporâneo da batalha, o livro Valeroso Lucideno (1648), do português Frei Manoel Calado, descreve a participação das antepassadas de Tejucupapo. “E houve entre os nossos uma mulher que com a imagem de Cristo nas mãos andava animando os nossos soldados… o batalhão investiu com o reduto com tanta coragem, que lhe abriu um portilho (como iam entrando) porém acudiram as mulheres e com dardos, e lanças lhe impediram a entrada, e tôdas de mão comum chamaram por os Santos Cosme e Damião… que tanto invocaram os Santos Mártires, deram os nossos trinta mancebos uma surriada ao inimigo por um lado, o qual suspeitando, que aos cercados lhe vinha chegando socorro, desistiu da emprêsa, e a-pesar-de sua soberba se retirou infamemente…”.

A obra luso-brasileira é principal objeto de estudos acerca do fato, contudo, a história passada de geração em geração no lugarejo evidencia personagens femininos de existência não comprovada, mas cheios de significado para os conterrâneos. Hoje, a recordação do fato carrega consigo inspiração que empodera as tejucupapenses. A população do lugar reconhece como heroínas do conflito armado quatros mulheres, as Marias Camarão, Joaquina, Quitéria e Clara. São os papéis principais da peça teatral que acontece em Tejucupapo desde 1993, produzida pelos próprios habitantes do distrito. Contudo, não há espetáculo há dois anos por falta de recursos financeiros.

Escute a canção de Maciel Salú sobre o episódio.

Contéudo relacionado a Jovita Alves Feitosa

FONTE As heroínas de Tejucupapo

 

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