Por Isabelle Stengers
Os mil nomes de Gaia. Nem mil traduções traduziriam o
mesmo evento inominável: o anúncio de que uma mudança climática global está a caminho.
Nomear é algo sério, isto é, uma questão pragmática, quando significa dar ao que é nominado o poder para induzir o pensamento e o sentimento de um modo particular. O nome Gaia claramente alude à ousada proposição de James Lovelock e Lynn Margulis que consideravam a Terra como um indivíduo existente quase-vivo, dotado de sua própria maneira de responder ao que o afeta, um existente que eles caracterizavam como um m sistema complexo auto-regulador que mantém as condições ideais para a vida no planeta.
A reviravolta na definição que transformou Gaia em um ser delicado, sensível e passível de mutações globais, é típico na história da ciência. Nós ainda nomeamos átomos – que
significa impossível dividir – o que os físicos descobriram como bastante divisíveis, mas essa foi a descoberta que marcou seu reconhecimento como verdadeiros seres científicos.
Do mesmo modo Gaia deixou de ser a hipótese de Lovelock e iniciou sua carreira científica quando o conjunto de processos não linearmente acoplados, que Lovelock caracterizou como estável, ideal para vida, perdeu essa propriedade tranquilizante. Isso aconteceu no final dos anos 80, quando a velha idéia de um aquecimento progressivo do clima terrestre, devido à emissão de gases de efeito estufa, foi desenvolvida através de simulações de computador cada vez mais poderosas, juntamente com novos dados observacionais.
(traduzimos do inglês um trecho da comunicação de Stengers)
FONTE: Gaia: The Urgency to think (and feel).
Conteúdo relacionado à Diante de Gaia.