[Conteúdo] Léxico do Antropoceno

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Conheça um léxico publicado no site da Unesco.

Para compreender o debate sobre o Antropoceno não basta conhecer a palavra proposta na década de 1980 pelo biólogo americano Eugene F. Stoermer e popularizada no início do milênio pelo meteorologista holandês Paul Crutzen. Uma visão geral de alguns termos técnicos chave:

Biocapacidade

O conceito foi proposto no início dos anos 90 pelo politécnico suíço Mathis Wackernagel e pelo ecologista canadense William Rees. Suas pesquisas sobre a capacidade biológica do planeta necessária para uma dada atividade humana levou-os a definir dois indicadores: biocapacidade e pegada ecológica. Desde 2003, esses dois indicadores são calculados e desenvolvidos pela ONG Global Footprint Network (https://www.footprintnetwork.org), que define a biocapacidade como “a capacidade dos ecossistemas para fornecer materiais biológicos úteis e de assimilar resíduos gerados pelo homem utilizando as tecnologias de gestão e extração existentes”.

Capitaloceno

O termo foi cunhado pelo sociólogo e historiador americano Jason Moore, que prefere falar de Capitaloceno em vez de Antropoceno. Segundo ele, foi o capitalismo que produziu a crise ecológica global que está conduzindo a uma mudança da era geológica. Uma variante do Capitaloceno, a noção de Ocidentaloceno, defendida em particular pelo historiador francês Christophe Bonneuil, assume que a responsabilidade pelas alterações climáticas cabe aos países ocidentais industrializados e não aos países mais pobres.

Coevolução entre genes e cultura

Segundo o sócio biólogo americano Edward O. Wilson, os genes permitiram o aparecimento da mente humana e da cultura humana (língua, parentesco, religião, etc.) e, inversamente, as características culturais poderiam, por sua vez, promover a evolução genética, graças à estabilização de certos genes que proporcionam uma vantagem seletiva aos membros do grupo em que este comportamento cultural é observado. Vários antropólogos e biólogos criticaram essa ideia de “co-evolução” entre genes e cultura, com o argumento de que a transmissão de traços culturais é um fenômeno volátil que não obedece às leis da evolução darwiniana. Também argumentam que, ao longo dos últimos 50.000 anos, a humanidade sofreu transformações culturais significativas, enquanto o patrimônio genético humano se manteve inalterado (com algumas excepções).

A pegada ecológica

Segundo a ONG Global Footprint Network, esse termo refere-se “às áreas biologicamente produtivas de terra e água necessárias para produzir os recursos que um indivíduo, população ou atividade consome e para absorver os resíduos gerados, tendo em conta as técnicas atuais e a gestão de recursos”.

Época geológica 

A escala temporal geológica é caracterizada por diferentes tipos de unidades temporais: éons, eras, períodos, épocas, idades. Para ser reconhecida como tal, cada subdivisão deve incluir condições paleoambientais (características climáticas), paleontológicas (tipos de fósseis) ou sedimentológicas (resultantes da erosão de seres vivos, solos, rochas, aluviões, etc.) semelhantes e homogêneas. A Comissão Internacional de Estratigrafia (https://stratigraphy.org) e a União Internacional de Ciências Geológicas (https://www.iugs.org) estabelecem padrões globais para a escala temporal geológica. Vivemos atualmente na era Holocênica, que está associada à sedentarização dos seres humanos e da agricultura. Se as condições acima forem cumpridas, o Antropoceno poderá ser definido em breve como uma nova época geológica.

A grande aceleração

Os cientistas concordam que, desde os anos 50, os ecossistemas têm sido alterados mais rápida e profundamente do que nunca, impulsionados por um crescimento sem precedentes do consumo em massa (nos países da OCDE), um crescimento populacional impressionante, crescimento econômico e urbanização. O químico americano Will Steffen chamou a este fenômeno “a grande aceleração”.

A grande divergência 

O termo “grande divergência”, cunhado pelo historiador americano Kenneth Pomeranz, refere-se à decolagem industrial que separou a Europa da China a partir do século XIX. Segundo o historiador, foi a distribuição geográfica desigual dos recursos carboníferos e a conquista do Novo Mundo que deu o ímpeto final à economia europeia.

Planeta (unidade de medida)

A Pegada Ecológica tem uma “equivalência planetária”, ou seja, pode ser expressa em termos do número de planetas necessários para satisfazer as necessidades da humanidade num determinado momento. Para ter em conta a pegada ecológica de um país, medimos o número de planetas que teriam sido necessários à população mundial se esta consumisse tanto como a população desse país. De acordo com a organização ambiental World Wildlife Fund (WWF), todos os anos a humanidade consome o equivalente a 1,7 planetas para satisfazer as suas necessidades.

Sexta extinção 

Uma grande extinção é um breve acontecimento na escala temporal geológica (alguns milhões de anos) durante o qual pelo menos 75% das espécies animais e vegetais desaparecem da superfície da Terra e dos oceanos. Das cinco extinções registadas, a mais conhecida é a do Cretáceo-Terciário, incluindo o desaparecimento dos dinossauros há 66 milhões de anos. Hoje, o biólogo americano Paul Ehrlich estima que entramos na sexta grande extinção (embora por enquanto os seus danos em termos de número de espécies sejam consideravelmente inferiores aos dos outros cinco): 40% dos mamíferos do mundo viram o seu alcance reduzido em 80% entre 1900 e 2015.

 

Esferas

Para o mineralogista russo Vladimir Vernadsky, inventor do conceito de biosfera em 1926, o planeta Terra é constituído pela intrusão de cinco esferas diferentes: a litosfera, o rígido envelope terrestre da superfície do planeta; a biosfera, constituída por todos os seres vivos; a atmosfera, o envelope gasoso que constitui o ar; a tecnosfera resultante da actividade humana; a noosfera, constituída por todos os pensamentos. Outros autores adicionaram posteriormente à lista as noções de hidrosfera (toda a água do planeta) e de criosfera (gelo).

Tecnodiversidade

A palavra biodiversidade refere-se à diversidade dos ecossistemas, espécies e genes, e à interação entre esses três níveis, num determinado ambiente. Por analogia, a tecnodiversidade refere-se à diversidade dos objectos tecnológicos e dos materiais utilizados para os fabricar.

Tecnofósseis

Os fósseis são restos mineralizados de indivíduos que viveram no passado. Por analogia, os tecnofósseis são os restos de objectos tecnológicos.

Tecnosfera

A tecnosfera refere-se à parte física do ambiente afectada pelas mudanças induzidas pelo homem: é um sistema globalmente interligado que inclui humanos, animais de estimação, terras agrícolas, maquinaria, cidades, fábricas, estradas e redes, aeroportos, etc.


Traduzido do francês por WALMIR LACERDA.

 FONTE: fr.unesco.org

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