Por Obsservatorio
Às 10 horas, assembleia de Comunhão e Libertação (CL): Cerca de 400 pessoas. Cinco colegas da Medicina, que apareceram na entrada, foram espancados e expulsos da sala de aula. A notícia se espalha pela universidade e cerca de trinta companheiros correm e são confrontados pela primeira vez por cerca de 100 ciellini[1]. A agressão dos ditos “autônomos” consiste no lançamento de slogans e insultos verbais (como por exemplo: “Barrabás Livre”, “Seveso, Seveso”). Começa uma provocação com palavra de ordem: os ciellini se entrincheiram dentro da sala de aula; um deles, de acordo com o prof. Cattaneo, de comum acordo com o reitor Rizzoli, pedira a intervenção da polícia e da ambulância, antes mesmo de algo acontecer.
Nesse ínterim, cerca de cem companheiros se reúnem fora do Instituto de Anatomia; os que ficaram lá dentro, após tentarem arrombar a porta da sala de aula, pedem a identificação dos responsáveis pelo ataque, convidando para sair aqueles que eram alheios ao que estava ocorrendo. Após várias tentativas frustradas, os companheiros se juntaram aos demais que lançavam slogans contra a CL fora do Instituto de Anatomia. Depois uma meia hora, a polícia e os carabinieri chegam com telefones móveis, jipes e caminhões, certamente em número desproporcional. Os companheiros então saem do jardim em frente ao instituto e se reúnem na calçada perto do portão; um primeiro grupo de carabinieri entra e enfileira-se no jardim, um segundo grupo faz a mesma coisa. Estão prestes a entrar, lançam-se sobre os companheiros, espancando-os sem motivo.
Os companheiros fogem para a Porta Zamboni; começa a primeira série de bombas. Voltando em direção a via Irnerio, os companheiros são bloqueados por um comando da polícia e de carabinieri e é neste momento que um carabiniere atira repetidamente. Para se defender, um coquetel molotov é jogado no jipe, causando um incêndio. Então, na Via Mascarella, um grupo de companheiros voltando para a universidade encontra um pelotão de carabinieri vindo da Via Irnerio. Neste momento o camarada Francesco Lorusso (um militante da Lotta Continua) é morto friamente.
Tinha ficado estudando até as 12h30 e só então havia saído para a rua. Os carabinieri atacam o grupo em que Francesco está e começam os primeiros disparos de metralhadoras. Alguns companheiros fogem para a universidade, subindo a Via Mascarella. Uma pistola calibre 9 é apontada para seus companheiros e dispara de 6 a 7 tiros em uma rápida sucessão. A atirador (como testemunham os funcionários da Zanichelli) usa uniforme, sem pochete tática, e capacete com viseira; mira com precisão, apoiando o braço em um carro. Francesco, ouvindo primeiros tiros, se vira enquanto corre com os outros e é atingido transversalmente. Seguindo o impulso da corrida, ele percorre mais 10 metros e cai no asfalto, sob o pórtico da Via Mascarella. Quatro companheiros o recolhem e transportam até a livraria Il Picchio, de onde uma ambulância o leva ao hospital. Francesco chega morto.
Enquanto isso, a polícia, depois de dispersar seus companheiros na Via Irnerio, volta para a delegacia. A notícia de que um companheiro tinha sido morto se espalha rapidamente. A Rádio Alice dá a notícia por volta das 13h30. A partir daí, na área universitária, há um fluxo contínuo de companheiros. Todas os meios de informação que o movimento possui estão em funcionamento, das palavras ao rádio. Dor e raiva se sobrepõem à descrença e desorientação. A universidade se organiza para evitar novas provocações da polícia, todas as vias de acesso estão fechadas, todos os docentes se reúnem e das assembleias improvisadas (todas as salas de aula, a cantina, todo espaço é preenchido com os companheiros que se organizam) emerge claramente que o assassinato de Francisco é tudo menos um “acidente”. Ligações são feitas para os diversos CdFs e uma delegação é enviada à Câmara do Trabalho para pedir adesão à marcha. A raiva e a dor vão crescendo e a maioria dos companheiros identifica os objetivos e as respostas que o movimento quer dar. A livraria CL, Terra Prometida, torna-se uma “terra arrasada” pela terceira vez.
Depois das assembleias, a polícia se organiza para garantir a legítima defesa da marcha e de todos os lados grita-se que o alvo político a ser atingido é a Democracia Cristã. Tudo começa com uma demonstração impressionante de 8.000 companheiros. São 17h30. A marcha está na Via Rizzoli: alguns companheiros descem e quebram as janelas da rua central. Na Piazza Maggiore, a marcha segue em cortejo, reunindo os companheiros que sobravam, enquanto um grupo de adeptos do Partido Comunista Italiano se reúne em torno do Sacrario dei Caduti; a esperada participação dos conselhos de fábrica falhou. A procissão segue para a Via Ugo Bassi, onde outras vitrines são quebradas.
Perto da sede da Democracia Cristã, a polícia se choca com a ala da frente da marcha que consegue evitar a invasão da própria marcha. Enquanto isso, a fila se desfaz e se dispersa nas ruas laterais. Um primeiro trecho é recomposto na Via Indipendenza e vai até a estação ferroviária, ocupando as primeiras plataformas. A outra parte se recompõe na Piazza Maggiore e entra na Via Indipendenza, onde fica sabendo da ocupação da estação. Enquanto isso, aí começam os confrontos, a polícia entra no salão principal, atirando bombas; os companheiros respondem, conseguindo fugir por uma saída lateral. O resto da procissão chegou às dependências da Universidade, onde nos reunimos em assembleia para uma avaliação do dia e para organizar a viagem a Roma no dia seguinte; entretanto, o luxuoso restaurante Cantunzein é “inaugurado” e centenas de amigos podem matar a fome.
A assembleia, que começou no Grande Salão de Letras, foi transferida para o cinema Odeon devido ao grande afluxo de pessoas. Perto do cinema, um companheiro é sequestrado e transportado em um carro com placa de civil por policiais à paisana com armas em punho. Durante a noite, várias prisões e buscas domiciliares são realizadas.
No final da tarde, as federações bolonhesas do PCI e da Fgci distribuíram um folheto: “… Uma nova provocação séria foi implementada hoje em Bolonha. Tudo começou com uma decisão inadmissível de um grupo da chamada Autonomia para impedir a assembleia de CL e com intervenções graves por parte da polícia. Diante de uma situação de tensão em que mais uma vez emergiu o papel de intimidação e provocação dos novos grupos, agentes do PS e carabinieri intervieram com o uso de armas de fogo… deve ser isolada e combatida a lógica da provocação e da violência que está mais do que nunca a serviço da reação. Já há algum tempo na nossa cidade, pequenos grupos de provocadores bem identificados têm agido precisamente dentro desta lógica ”.
[1]No original ciellini: Pertencentes ao movimento católico laica de orientação política centrista denominado Comunhão e Libertação (CL) fundado pelo padre Luigi Giussani em 1954 no meio estudantil milanês, inicialmente como um ramo da Ação Católica.
Traduzido do italiano por REGINA SILVA
No minuto 3’24” do vídeo, Berardi surge na imagem com um jornal na cabeça escrito Bifo.
FONTE: www.osservatoriorepressione.info
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